Gostava de o ver chegar
Gostava de o ver chegar, de sacola atrás das costas, suor escorrendo da correria, com um sorriso de quem finalmente terminara mais um dia. Dava-lhe um beijo demorado e dirigiam-se à cozinha, os olhos dele procurando avidamente um lanche depois de tantas palavras, de tantas brincadeiras, de tantas diabruras. Os olhos grandes muito redondos diziam mais do que todas essas palavras que ela já conhecia de fio a pavio.
Quando a noite caía sobre a casa com o seu manto, lia-lhe uma história. Ali, só existiam aquelas personagens e a realidade era o que faziam dela. Riam de coisas pequenas, que afinal eram maiores do que pareciam.
'Já é tarde', dizia, mas ele nunca achava o mesmo. Quando desligava o interruptor, interrogava-se sobre o que o esperaria e o coração, subitamente sobressaltado, pulava de angústia. Mas, ao olhar para o seu ar sereno e terno, a serenidade também a visitava e sabia que amanhã seria mais um dia de aprendizagem e ensinamento.
'Bons sonhos', dizia, no silêncio do quarto já escuro. E dirigia-se para a porta, segura que o amanhã traria mais descobertas esculpidas no seu rosto de mãe guerreira.